Entre o céu e a terra

Entre o céu e a terra

Quando há vinte anos me predispus a escutar sonhos, influenciado, entre outros conhecimentos, pelo pensamento freudiano, esperava encontrar, na maior parte dos pacientes, uma problemática dominada pela sexualidade. Cedo me apercebi de que isso só se passava em 30% dos casos. Além disso, fui surpreendido por uma observação. Qualquer que fosse a expectativa inicial das pessoas que vinham às consultas, o desconforto psicológico que manifestavam tinha, na maioria dos casos, uma origem comum.

Sem disso estarem conscientes, todos estes pacientes sofriam, em maior ou menor proporção, de uma dificuldade de posicionamento entre a sua aspiração de realização material e a sua necessidade de realização espiritual.

Uma das tarefas mais difíceis com que se confrontam os homens e as mulheres privilegiados que conhecem a civilização da abundância é justamente a de restabelecer um equilíbrio, que está sempre a ser rompido, entre o apelo dos bens materiais (TER) e a necessidade de realização psíquica (SER).

Num mundo onde o cinismo se instala em nome do combate contra a hipocrisia, onde a lei da competição, ou seja, da comparação, impregna todas as actividades humanas numa proporção absurda, é preciso ter muita consciência para cultivar os valores do Si Mesmo, já que todas as solicitações se dirigem à persona. Um erro não justifica o erro inverso. A época das intolerâncias espirituais não justifica a do horror económico!

Desenvolvi amplamente estes temas nos artigos do Dictionnaire de la Symbolique consagrados ao ouro e às pedras preciosas. Inúmeros exemplos nesses artigos atestam que o/a sonhador/a alcançou a gruta das riquezas, onde brilham o ouro e as pedras preciosas de todas as cores, e que se dá conta de que o tesouro que busca é, na verdade, o tesouro interior.

Em nenhum dos sonhos que escutei houve algum/a sonhador/a que trouxesse da gruta fosse o que fosse. Quando lá chegam, todos se dão conta de que o tesouro que procuram está, de facto, dentro deles mesmos e de que as suas cores luminosas são inalteráveis.

Georges Romey
Excertos traduzidos

Deixe um comentário