A mandala

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Mandala é um termo geral, proveniente do sânscrito, que significa círculo. As mandalas são desenhos contemplativos, geométricos, circunscritos por um círculo. Para as diferentes tradições do mundo, trata-se de desenhos místicos, símbolos de energias cósmicas. Podem ser utilizados como suporte de meditação ou como forma de busca de uma harmonia interior.

Presente nos quatro cantos do globo, nas culturas indiana, tibetana, ameríndia, aborígene, africana, celta, muçulmana, ocidental, nas rosáceas das catedrais, por exemplo, as mandalas são uma representação simbólica da harmonia cósmica.

Segundo os ensinamentos do filósofo, matemático e astrólogo Pitágoras, da Antiguidade Grega, “o Número é a lei do Universo”, a geometria sagrada é a via real do conhecimento, o que sublinhou Platão, seu discípulo, ao escrever: ”Os números representam o mais alto grau do conhecimento.”

Todas as tradições deram nascimento a mandalas, porque a geometria é uma linguagem universal. O círculo representa a perfeição, a unidade divina. O ponto central simboliza o misterioso centro de energia, lugar de nascimento de toda a existência no espaço e no tempo.

Simboliza igualmente a unidade, a totalidade e a perfeição. É sem dimensão nem lugar. O centro e a esfera nascem dele. São formas de manifestação de um ponto central. O ponto central surge como início e fim de todos os caminhos possíveis. A lei do centro é o silêncio, e a lei do mundo, a periferia, é o movimento.

A experiência ensina-nos que o “círculo mágico”, a mandala, era o antídoto utilizado por toda a Antiguidade para os estados de ânimo caóticos. Trata-se de uma forma fundamental relativamente simples, que possui um significado central. Um ponto único no centro, pontos múltiplos na periferia. A circum-ambulação ritual apoia-se na similitude cósmica da rotação do céu estelar, da ronda das estrelas.

Uma mandala é um símbolo do Si Mesmo. O Si Mesmo não é o eu, mas uma totalidade situada acima deste, que abraça o consciente e o inconsciente. Mas, como este último não possui limites determináveis, e, nas suas camadas mais profundas, é de natureza coletiva, não pode distinguir-se do de qualquer outro indivíduo. Representa, por conseguinte, a “participação mística”, sempre presente onde quer que seja, a unidade da multiplicidade, o ser humano único em cada um de nós.

O símbolo do Círculo e da Roda são universais. A Roda é a imagem do Tempo e da lei dos Ciclos, coloca a nossa pequena existência humana num todo mais vasto, na sucessão das vidas e na alma do Universo. A mandala é para mim uma viagem iniciática em direção ao Centro. É a imagem de uma busca de Absoluto e de Unidade.

Excerto de Raízes da Consciência de Carl Gustav Jung

Segundo C. G. Jung (1875-1961), através da contemplação e da concentração, a mandala tem por função atrair intuitivamente a atenção sobre certos elementos espirituais a fim de favorecer a sua integração consciente na personalidade.

Jung chamou a atenção para o facto de que o inconsciente, em períodos de perturbação, pode produzir mandalas espontaneamente. Para ele, a mandala simboliza, após a travessia de fases caóticas, o movimento da psique em direção ao núcleo espiritual do Ser, em direção ao Si Mesmo, levando à reconciliação interior e a uma nova integridade do Ser.

A mandala representa um modelo de macro e de microcosmo: o centro e a rotação, a unidade e a diversidade (o conjunto das galáxias, sistemas solares, as células, as moléculas e os átomos). É uma visualização do Universo.

O centro da mandala representa o centro do Universo, a Unidade, o Divino, o Transcendente. A periferia representa a manifestação do mundo. É a diversidade do Universo em organização, nascido a partir do Centro.

Pensando no macrocosmo, descobrimos os sistemas solares. No centro, encontra-se o sol e, na sua órbita, os planetas, seus satélites e luas. Pensemos nas galáxias: possuem o seu centro onde as estrelas são mais compactas e onde a luz brilha com mais intensidade. As suas periferias são os imensos braços das galáxias ou espirais, que, por sua vez, têm um movimento de rotação em torno de um centro.

A nível do microcosmo, descobrimos o mundo dos cristais, das células e dos átomos, que revelam o mesmo esquema de organização que a mandala. Os núcleos são os centros e as periferias organizadas são os seus círculos. Cada átomo representa uma mandala, assim como cada núcleo de átomo.

“No macrocosmo como no microcosmo”, “Em cima como em baixo”, diz uma lei espiritual muito antiga da filosofia hermética. Assim, a mandala é um “cosmograma”, que representa o Universo inteiro no seu esquema essencial. O desenho de uma mandala influi sobre o psiquismo: unifica através do centro e equilibra através da periferia. Atrai o olhar na direção do Centro, da Unidade, do Divino. Atrai-nos para o nosso próprio centro.

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Etienne Perrot
Les rêves et la vie
Paris, Editions du Dauphin, 1999

Henri Gougaud: recebemos uma carta em que um pai relata um sonho muito belo da sua filha pequena. Várias corujas formavam um círculo. Havia seis corujas e, ao centro, uma só. No círculo, uma coruja ululava em direção da que estava ao lado. A menina via essas corujas de frente. Quando uma coruja ululava para a vizinha do lado direito, voltava-se para ela, e a coruja do centro, que estava virada para a primeira, voltava-se então para a segunda. Esta ululava para a terceira, e a coruja do centro também se voltava para a terceira, e assim sucessivamente, até dar a volta completa ao círculo. Era como um relógio, e o movimento fazia-se no sentido dos ponteiros de um relógio.

Etienne Perrot: Este sonho é muito interessante. Trata-se de um sonho arquetípico representando um símbolo de totalidade, uma mandala, que é um espaço que significa a totalidade e possui um centro. A circunferência e o centro desta mandala são constituídos por seres animados, as corujas. Tal como o mocho, a coruja é um animal noturno, capaz de ver na escuridão. Está tradicionalmente ligada à alquimia, já que o alquimista mergulha na obscuridade da matéria, o inconsciente, para ver claro, isto é, para se autoconhecer. O sábio é aquele que vê na noite, tal como a coruja e o mocho.

O número de aves é igualmente interessante: há seis à volta e uma ao centro, o que nos faz pensar nos dias da criação, em número de seis. Seis aves na periferia, que são o mundo criado, o mundo da matéria e das aparências, o visível, enquanto ao centro se encontra a sétima, que não age e apenas observa. Estamos perante um centro praticamente imóvel, mas que é a origem do movimento e que comunica o sinal de movimento aos elementos que se encontram na circunferência.

Estes rodam no sentido dos ponteiros de um relógio, da esquerda para a direita, do interior para o exterior, do inconsciente para o consciente. É o normal desenvolvimento da atividade criadora, assim como da fonte divina brota uma energia que cria as formas do mundo e que expande o mundo no tempo.

Trata-se, no entanto, do sonho de uma menina com menos de dez anos. Esta imagem do sonho deve ter produzido nela o mesmo efeito de um belo conto, dada a harmonia subjacente, o seu ritmo sereno e tranquilizador. Possivelmente o sonho ajudá-la-á a compreender o sentido dos seis dias da criação, e o do sétimo, que é, simultaneamente, o dia do repouso, do termo, mas também o dia do princípio. Talvez ela possa perceber que, em si, existe uma fonte interior do movimento, uma parte central imóvel que preside a toda a nossa atividade.

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